Enquanto ao poucos o ônibus ia se tornando apertado e incômodo, essa mesma pressão física atormentava Regina mentalmente, aos poucos ela percebeu que há muito tempo não jogava tantos pensamentos pelas paisagens cotidianas que via atráves da janela, e ficou assustada com o tempo,com as folhas,com as sacolas que sacudiam em suas mãos, a cada travada impulsiva e violenta, que fazia seu corpo frágil involuntariamente se mexer , um tormento em seu peito cada vez mais gritante, cada vez mais audível a todos, e uma dor verbalmente inexplicável, um sentimento despertado de desespero,angustia crescente diante do inevitável, dos dias que passaram, das escolhas feitas pela preguiça de mudar ,por todo esse clichê existencial tão desgastado, mas que para ela havia morrido a tanto tempo, a anestesia estava passando aos poucos, e faltava tão pouco para chegar em casa.
Seu marido olhava tv absorto em propagandas e telejornais,a espera silenciosa pela rotina que ela mesma cedeu seu corpo e mente, para os fins infindáveis da vida conjugal, a comida, a roupa, as palavras de sempre, o olhar sem brilho envoltos de uma mesa desbotada,a disputa pelo colchão nas altas horas da madrugada,e a coberta roubada em um ato impulsivo quase indolor, se não fosse pelo frio que ela sentira, dentro de si mesma.e os filhos...que nunca vieram.
Regina não estava mais no ônibus,não estava mais no apartamento que comprará a dez anos atrás, e tampouco em algum lugar muito óbvio,e ela foi substituída,e ela substituiu, e viu que a singularidade e pecularidade que ela achou que existia,são só pequenas ilusões,para ela se manter viva.
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