segunda-feira, 10 de maio de 2010

Quando eu tinha algo como meia década de existencia,talvez com quase certeza um pouquinho mais,minha vó comprou uma torradeira,aquelas quais a torrada pula,igual aos desenhos animados,ou os seriados americanos de famílias equilibradas,de tez vermelha ao qual os sorrisos irritantes preencheram muita das nossas tardes,mas o que mais me interessou,foi a caixa de papelão,ao qual veio a já então tão esperada torradeira,minha vó nunca gostou de lixo,então logo a caixa iria embora do nosso pequeno apartamento entediante,mas eu e meu vô resgatamos ela desse adeus desnecessário a nós,e eu fiz uma filmadora com aquela caixa,cortei uma lateral fazendo um furo,e a outra fazendo um quadrado torto,quase rasgando ela e pondo todo plano a perder,colei com fita crepe umas tampas de coca-cola,seriam os botões,e a caixa aos poucos foi ficando cheia de fica crepe e durex,pois ela se rasgava,meu vô fez uns furos nas laterais maiores,e colocou um cadarço,assim eu andava com ela na rua,pendurada no pescoço,ou então segurando ela e filmando as coisas que não queria esquecer,mas que agora não dou nem um palpite do que seriam,pois não lembro.simplesmente não lembro,mas lembro do seu processo de criação,da minha vó reclamando da sujeira e dos pedaços de papeis no chão,e do meu vô rindo e fazendo de minha camera,algo inovador e realmente divertido,a memória não me falha na criação dela,nem na certeza de sua existencia,mas ao poucos,ela sumiu da minha vida,foi guardada em um canto,rasgando cada vez de forma mais destrutiva,os cadarços ficaram sujos,a lente que não existia,não moldava mais as paisagens da ida até a padaria,ou a pracinha cheia de crianças gritonas,e que fim ela levou ? Eu realmente não lembro a última vez que brinquei com ela,ela foi sumindo,porém sem ter um fim permamente,pois eu não lembro,então talvez essa lente invísvel,esteja filtrando minha realidade pacata até agora...
Eu penso,se nossos anseios quando criança,desejos,inspirações,conseguem durar até um longo tempo depois,mesmo uns dez anos depois de ter uma filmadora de papelão,agora ganharei uma de verdade,com uma lente que existe,com algo a mais,que fará eu lembrar das coisas que eu olhei atraves de sua lente existente,e eu penso,se lembrarei do fim dela,já que agora nesse exato momento,já lembro de um íncio que ela ainda não teve.
Acho que os fins nunca me fizeram bem,pensar no nunca mais,embora nunca e sempre sejam um clichê tão forte,mas tão desbotado ao mesmo tempo,sempre apertam meu coração e fazem algo se entalar na minha garganta,iguao a cena tragicomica,em que tendo um ataque de riso,me engasguei e comecei a chorar sem parar,loucura ? surto ? Acho que não,o riso está para o choro,assim como a euforia para a tristeza.

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